Dá pra elogiar sem xingar, dizem

Aí que morreu um humorista fantástico, parece que foi suicídio. Sei que é fantástico porque eu, que não era fã nem conhecia nada do cara, tenho lembranças de momentos da carreira dele que me fizeram perder o ar de rir. E quando você não acompanha o trabalho de alguém e, mesmo assim, esse trabalho chega até você e marca positivamente é sinal que o cara é bom. Isso não se discute, né?

Mas aí que eu vi um texto em homenagem a ele que começava dizendo algo assim “Ele não tinha coluna na Folha nem namorava uma atriz fofinha”, em clara referência ao Gregório do Porta dos Fundos, sabe? Enfim, não eu não acho o Gregório o cara mais inteligente que já pisou no planeta Terra nem a salvação da lavoura. Mas eu acho ele engraçadinho e acho que ele nunca me machucou. Acho que é possível que ele nunca tenha deferido golpes contra o autor do texto, nem contra o Fausto Fanti, que Deus o tenha. Então eu não entendi porque ele foi citado em uma homenagem ao Fausto. Achei até ofensivo que nesse momento, em que o natural fosse lembrar os pontos positivos do Fausto, falar mal do Gregório fosse mais importante.

Que mania besta de achar que pra você provar o quanto você acha algo bom você tem que começar depreciando o que acha ruim, não é? Que que o Gregório tem a ver com isso tudo? Aposto que ele não deve ter ficado feliz e comemorado cantando algo sobre não ter mais concorrência nem nada assim. Que coisa!

Assim, você pode achar o Gregório um mongo. Um boçal. Um idiota. Você tem todo o direito de não gostar dele e ficar aliviado ao fechar o vídeo e não dar audiência. Já fiz isso com uma meia duzia de vídeos mais idiotinhas dele (na minha opinião) e meu braço não caiu nem a polícia me prendeu. Se esse for seu caso, quando o assunto for Gregório, Folha, Porta dos Fundos, a família Duvivier, o novo humor brasileiro, o YouTube… Dai você fala “nem curto esse cara, acho ele ruim por X, Y e Z”. Ou até assume sua parcialidade e fala algo, sei lá “Acho que ele tem cara de sapo e tenho inveja do sucesso dele”. Cada um assume o que sente como quer. Mas desmerecer o trabalho dele e citar a guria que ele namora como forma de prestar uma linda homenagem a um bom humorista… Meu, que lixo.

Dá pra falar bem do Fausto Fanti sem começar falando mal do Gregório.
Dá pra gostar de rock sem começar a falar disso lembrando como funk é um lixo cultural pro seu ouvidinho.
Dá pra ser católico sem falar mal de judeus por aí.
Dá pra gostar do A sem xingar o B pra justificar.

Dá pra ter cérebro e ser coerente e menos agressivo com esse mundo.

Você pode escolher algo pra gostar e gostar e só. Sem odiar o outro. Você pode parar de tratar o mundo como uma enorme partida de futebol em que você precisa escolher um lado pra torcer e encher o outro de porrada. Não precisa ser hooligan, colega. Se não gosta do outro, não da IBOPE pra ele.

Mas quando a gente precisa denegrir a imagem de um pra poder levantar a do outro, isso não é elevar o bom, apenas rebaixar alguém pra destacar outro alguém. E é bem idiota. E um pouco de recalque. O Fausto Fanti merecia ser elevado. Ele era ótimo. Ele não precisa que rebaixem os humoristas em volta pra que ele pareça melhor. E isso é uma puta de uma falta de respeito com o trabalho dele – mais até do que com o do Gregório que continuará tendo sua coluna na Folha e namorando a atriz fofinha independente da sua opinião sobre isso.

Parem com essa mania idiota de precisar tanto achar ódio antes de achar elogios e coisas bonitas, por favor, obrigada, de nada.

4 pensamentos sobre “Dá pra elogiar sem xingar, dizem

    • Chego a conclusão que cada vez mais o problema é a idiotice das pessoas mesmo, sabe? Enfim, já tivemos outro suicídio de celebridade, dessa vez em escala mundial, e as pessoas também falaram cada coisa babaca que, nossa.

  1. Brilhante o posicionamento. O mundo é tão plural que não entendo como as pessoas querem se prender ao maniqueismo razo dessas comparações bestas. Deixa cada um ser taletoso como cada um é talentoso.

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