o filme Chef virou queridinho no verão norte-americano: escrito, dirigido e estrelado pelo Jon Favreau, ele conta a história de um chef de cozinha de um restaurante francês que larga o emprego maçante fazendo comida sem graça e abre um food truck para fazer a comida que ele quer na companhia de um cozinheiro amigo e o filho de dez anos. é um filme fofo, divertido, com uma trilha sonora impecável e comidas absurdamente apetitosas.
mas aí eu começo a pensar demais. o Carl é um chef de cozinha fodão que trabalha há muitos anos sendo infeliz em um restaurante francês, fazendo comida clássica e sem nenhuma liberdade. ele não tem tempo nem responsabilidade com o filho de dez anos, mas magicamente nem o filho nem a ex esposa ficam minimamente chateados com isso. a ex esposa Inez (Sofia Vergara) já está divorciada dele há tempos, mas continua acompanhando o que ele faz, dando apoio, conselhos e ajudando para que ele possa seguir os sonhos – ou seja, ela faz o papel de uma esposa amorosa sem estar casada com ele.
basicamente a personagem é uma mulher bonita, bem sucedida, que se casou (e divorciou) novamente depois do Carl e é uma boa mãe e que quer que o filho tenha uma boa relação com o pai (por mais que ele fique cagando no pau vez após vez). ela trabalha bastante no filme, mas não sabemos com o que – ela não tem uma história, motivação, personalidade. a única função dela o filme é ter tido o filho com o chef e ficar dando combustível para ele correr atrás do que ele quer – e ser a recompensa quando ele finalmente vira adulto.
a outra personagem feminina do filme é interpretada pela Scarlett Johansson, num papel tão rasinho e rápido que a única coisa que sabemos é que ela é uma hostess competente, que eventualmente é ~seduzida pela comida autoral do chef. apesar dele fazer comida bunda mole no restaurante e viver numa pilha de estresse por isso, ela diz que ele é o melhor chef com quem ela já trabalhou e que ele deve ir atrás dos sonhos, yadda yadda yadda.
eu entendo que esse é um filme “de meninos”, que mostra o crescimento do Carl e a reaproximação dele com o filho, que mostra a amizade com o sous chef ( ❤ John ❤ Leguizamo ❤ ) e que o Jon Favreau escreveu sobre o que ele sabe e queria (e é uma metáfora sobre a carreira dele, passando por blockbusters e achando o prazer fazendo esse filme mais independente), mas eu não entendo por que as mulheres têm que ser só acessórios bonitos (MUITO bonitos, nesse caso) que existem exclusivamente para o personagem chegar ao topo. um filme sobre o crescimento de meninos e homens não precisa ser sobre mulheres, mas nem por isso elas precisam ser absolutamente nulas, né não?
bom, isso tudo dito, super recomendo o filme pra um dia de preguiça esparramada no sofá comendo uma pipoca e chorando por não estar comendo as delícias da tela – é divertido e bonitinho pra quando você não quer pensar muito – coisa que eu obviamente tenho problema em fazer.